segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Livro Força da minha vida

Tributo à Esperança


Ronaldo A. Silva


               Havia certa vez num reino muito distante, um rei vivendo um momento de grande aflição. Inimigos poderosos e cruéis queriam destruir o seu reino e tirar-lhe a vida. Seguindo o conselho dos seus ministros, apelou para a ajuda de três valentes guerreiros que, segundo afirmavam, eram invencíveis. Não havia batalha, grande ou pequena que eles não pudessem vencer.

O primeiro era o AMOR. Persuasivo, paciente, cheio de resignação. Incontáveis vezes ele fazia o mal bater em retirada devido às suas estratégias vencedoras que dispensavam o confronto direto com os seus inimigos. A FÉ, por sua vez, era uma guerreira bem diferente. Adorava os desafios, e gabava-se de grandes feitos, coisas que aos olhos dos incrédulos pareciam impossíveis. O terceiro guerreiro, ou melhor, uma guerreira, era a ESPERANÇA. Com sua aparência serena, postura firme, vinha sempre na retaguarda, dando apoio indispensável às suas companheiras. Não tinha muito do que se orgulhar, mas nas grandes batalhas invariavelmente era ela quem se saía melhor e menos arranhada.

Havia nessa história, um quarto personagem chamado MILAGRE. Um antigo sábio que costumava viver ao lado do rei, mas que fora injustamente desprezado e esquecido por ele. A estas alturas, nem mesmo o rei sabia do seu paradeiro. Informados sobre isso, os guerreiros tinham como missão encontrar MILAGRE que lhes forneceria a estratégia para vencer a batalha. O que os guerreiros não sabiam é que por causa da IGNORÂNCIA, amiga do rei, MILAGRE encontrava-se aprisionado em um lugar desconhecido, e provavelmente nunca mais seria encontrado. Talvez estivesse até morto. Estarrecidos, em breve eles descobririam isso.

Os três apresentaram-se ao rei.

              No dia da batalha, exércitos formidáveis, vindos dos quatro cantos da terra devastavam o pequeno reino, sitiando os muros que o rodeavam. ANGÚSTIA, PAVOR e MEDO vieram tomar conta do rei. E junto com eles veio também a DÚVIDA. Disfarçada de PRUDÊNCIA, o rei não pôde discernir ao certo de que lado ela estava. Até descobrir mais tarde, que se tratava de uma bruxa traiçoeira, da qual devia ter se livrado o quanto antes.

Lá fora, defendendo os muros da fortaleza, os fiéis guerreiros desprezavam a aparência assustadora dos seus inimigos. No início da peleja, o rei apenas observava pela janela do seu palácio. Esforçava-se ele desesperadamente para acreditar que a batalha teria um final feliz.

Infelizmente, para o espanto do rei, algo terrível começou a acontecer. A estratégia montada pelo guerreiro AMOR mostrou-se deficiente. Então, num dado momento, três sujeitos de aparência tenebrosa o cercaram. Eram eles: ÓDIO, CRUELDADE e INGRATIDÃO. Tendo recebido vários golpes, sucessivos e mortais, AMOR sentiu o seu coração esfriar. E havendo sido mortalmente ferido, agonizava, enquanto se perguntava onde foi que ele havia errado! Sem forças para se manter em pé, até ao fim da peleja, o AMOR tombou, deixando atônitas as suas duas companheiras, que nada puderam fazer.

Então a FÉ encheu-se de furor. E com maior ímpeto investiu contra as forças inimigas, neutralizando seus ataques. Assim conseguiu retardar por algum tempo o avanço dos invasores. No entanto, recrudesceu o combate. E de repente, surgiram diante dos seus olhos duas estranhas criaturas: ICREDULIDADE e DÚVIDA. Aquela que havia estado junto ao rei. Por não terem a aparência assustadora dos outros oponentes, a FÉ desdenhou delas. A princípio elas lhe deram pequenos e sucessivos golpes. E depois, maiores e mais fortes. Então a FÉ viu-se cada vez mais debilitada. Disso aproveitaram-se os inimigos para se lançarem sobre ela sem dó nem piedade. Atingida por um golpe traiçoeiro da DÚVIDA, a FÉ não teve como resistir. E o inimigo, tirando-lhe a armadura em que confiava, alvejou o seu peito com um golpe cruel e certeiro tirando-lhe a vida. Tratada de modo cruel, seus inimigos a lançaram morta, nas águas de um profundo poço que havia no centro da cidade.

 ESPERANÇA se viu só, mas continuou lutando. Vendo que suas companheiras caíram em combate, ESPERANÇA lembrou-se de MILAGRE. E insistentemente se dirigiu ao rei procurando saber onde MILAGRE estava aprisionado, para que pudessem libertá-lo. Infelizmente o rei não sabia. Determinada a encontrar MILAGRE a qualquer custo, ela lutou com maior vigor, contra todos os inimigos à sua volta. E sua determinação e perseverança eram a fonte da sua força. Ao perceber o tempo se esgotando, porém, ela chegou à conclusão de que já não poderia mais encontrar MILAGRE. De repente os muros em volta de ESPERANÇA começaram a ruir. O mais terrível e mortal dos inimigos, DESESPERO, rompeu os muros, agigantou-se assustadoramente e entrou em ação trazendo devastadora destruição sobre a fortaleza real e os seus moradores. Logo surgiu o PÂNICO que tratou de afugentar as tropas do rei até que ele ficou completamente só. Diante da figura assustadora do PÂNICO, o rei decidiu fugir. ESPERANÇA, no entanto, permaneceu lutando, dando ao rei alguns minutos de vantagem sobre os seus perseguidores.

Infelizmente, vendo ESPERANÇA que sozinha haveria poucas chances de salvar o reino da derrota, virou o seu veloz cavalo em direção às planícies e saiu em disparada, para tentar salvar a vida do desfortunado rei.

 Ao perceber isso, DESESPERO saiu no seu encalço. Ao olhar para trás, o rei via horrorizado a ESPERANÇA que, com sinais de cansaço, ia ficando para trás cada vez mais. Enquanto isso, o rei em sua fuga desesperada, não tinha a menor ideia da direção que estava tomando.


Porém, ao chegar às margens do despenhadeiro do DESTINO, de onde não podia mais voltar, o rei olha para trás uma última vez. E espera ansiosamente que a ESPERANÇA consiga vencer seus perseguidores. Porque se ela morrer, ele também morrerá. Enquanto aguardava o desfecho da situação, o rei ergueu as suas mãos aos céus, em gratidão pela força que lhe dava ESPERANÇA, qualquer que fosse o seu destino. Pois numa trágica história onde inimigos mortais se mostraram mais fortes do que as maiores virtudes, a ESPERANÇA lançou mão de uma estratégia de grande valor. Fugir para preservar sua vida. Portanto, quando tiverem que perecer todas as virtudes, ESPERANÇA será a última a morrer...


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