Tributo à Esperança
Ronaldo A. Silva
Havia certa vez num reino muito distante, um rei vivendo um momento de
grande aflição. Inimigos poderosos e cruéis queriam destruir o seu reino e
tirar-lhe a vida. Seguindo o conselho dos seus ministros, apelou para a ajuda
de três valentes guerreiros que, segundo afirmavam, eram invencíveis. Não havia
batalha, grande ou pequena que eles não pudessem vencer.
O primeiro
era o AMOR. Persuasivo, paciente,
cheio de resignação. Incontáveis vezes ele fazia o mal bater em retirada devido
às suas estratégias vencedoras que dispensavam o confronto direto com os seus
inimigos. A FÉ, por sua vez, era uma guerreira bem diferente. Adorava os
desafios, e gabava-se de grandes feitos, coisas que aos olhos dos incrédulos pareciam
impossíveis. O terceiro guerreiro, ou melhor, uma guerreira, era a ESPERANÇA. Com
sua aparência serena, postura firme, vinha sempre na retaguarda, dando apoio
indispensável às suas companheiras. Não tinha muito do que se orgulhar, mas nas
grandes batalhas invariavelmente era ela quem se saía melhor e menos arranhada.
Havia nessa
história, um quarto personagem chamado MILAGRE. Um antigo sábio que costumava
viver ao lado do rei, mas que fora injustamente desprezado e esquecido por ele.
A estas alturas, nem mesmo o rei sabia do seu paradeiro. Informados sobre isso,
os guerreiros tinham como missão encontrar MILAGRE que lhes forneceria a
estratégia para vencer a batalha. O que os guerreiros não sabiam é que por
causa da IGNORÂNCIA, amiga do rei, MILAGRE encontrava-se aprisionado em um
lugar desconhecido, e provavelmente nunca mais seria encontrado. Talvez
estivesse até morto. Estarrecidos, em breve eles descobririam isso.
Os três
apresentaram-se ao rei.
No dia da batalha, exércitos
formidáveis, vindos dos quatro cantos da terra devastavam o pequeno reino,
sitiando os muros que o rodeavam. ANGÚSTIA, PAVOR e MEDO vieram tomar conta do
rei. E junto com eles veio também a DÚVIDA. Disfarçada de PRUDÊNCIA, o rei não
pôde discernir ao certo de que lado ela estava. Até descobrir mais tarde, que
se tratava de uma bruxa traiçoeira, da qual devia ter se livrado o quanto antes.
Lá fora, defendendo
os muros da fortaleza, os fiéis guerreiros desprezavam a aparência assustadora
dos seus inimigos. No início da peleja, o rei apenas observava pela janela do
seu palácio. Esforçava-se ele desesperadamente para acreditar que a batalha
teria um final feliz.
Infelizmente,
para o espanto do rei, algo terrível começou a acontecer. A estratégia montada
pelo guerreiro AMOR mostrou-se deficiente. Então, num dado momento, três
sujeitos de aparência tenebrosa o cercaram. Eram eles: ÓDIO, CRUELDADE e INGRATIDÃO.
Tendo recebido vários golpes, sucessivos e mortais, AMOR sentiu o seu coração esfriar.
E havendo sido mortalmente ferido, agonizava, enquanto se perguntava onde foi
que ele havia errado! Sem forças para se manter em pé, até ao fim da peleja, o AMOR
tombou, deixando atônitas as suas duas companheiras, que nada puderam fazer.
Então a FÉ
encheu-se de furor. E com maior ímpeto investiu contra as forças inimigas,
neutralizando seus ataques. Assim conseguiu retardar por algum tempo o avanço dos
invasores. No entanto, recrudesceu o combate. E de repente, surgiram diante dos
seus olhos duas estranhas criaturas: ICREDULIDADE e DÚVIDA. Aquela que havia
estado junto ao rei. Por não terem a aparência assustadora dos outros
oponentes, a FÉ desdenhou delas. A princípio elas lhe deram pequenos e
sucessivos golpes. E depois, maiores e mais fortes. Então a FÉ viu-se cada vez mais debilitada. Disso
aproveitaram-se os inimigos para se lançarem sobre ela sem dó nem piedade.
Atingida por um golpe traiçoeiro da DÚVIDA, a FÉ não teve como resistir. E o
inimigo, tirando-lhe a armadura em que confiava, alvejou o seu peito com um
golpe cruel e certeiro tirando-lhe a vida. Tratada de modo cruel, seus inimigos
a lançaram morta, nas águas de um profundo poço que havia no centro da cidade.
ESPERANÇA se viu só, mas continuou lutando.
Vendo que suas companheiras caíram em combate, ESPERANÇA lembrou-se de MILAGRE.
E insistentemente se dirigiu ao rei procurando saber onde MILAGRE estava
aprisionado, para que pudessem libertá-lo. Infelizmente o rei não sabia.
Determinada a encontrar MILAGRE a qualquer custo, ela lutou com maior vigor, contra
todos os inimigos à sua volta. E sua determinação e perseverança eram a fonte
da sua força. Ao perceber o tempo se esgotando, porém, ela chegou à conclusão
de que já não poderia mais encontrar MILAGRE. De repente os muros em volta de ESPERANÇA
começaram a ruir. O mais terrível e mortal dos inimigos, DESESPERO, rompeu os
muros, agigantou-se assustadoramente e entrou em ação trazendo devastadora
destruição sobre a fortaleza real e os seus moradores. Logo surgiu o PÂNICO que
tratou de afugentar as tropas do rei até que ele ficou completamente só. Diante
da figura assustadora do PÂNICO, o rei decidiu fugir. ESPERANÇA, no entanto,
permaneceu lutando, dando ao rei alguns minutos de vantagem sobre os seus
perseguidores.
Infelizmente,
vendo ESPERANÇA que sozinha haveria poucas chances de salvar o reino da
derrota, virou o seu veloz cavalo em direção às planícies e saiu em disparada,
para tentar salvar a vida do desfortunado rei.
Ao perceber isso, DESESPERO saiu no seu encalço.
Ao olhar para trás, o rei via horrorizado a ESPERANÇA que, com sinais de
cansaço, ia ficando para trás cada vez mais. Enquanto isso, o rei em sua fuga
desesperada, não tinha a menor ideia da direção que estava tomando.
Porém, ao
chegar às margens do despenhadeiro do DESTINO, de onde não podia mais voltar, o
rei olha para trás uma última vez. E espera ansiosamente que a ESPERANÇA
consiga vencer seus perseguidores. Porque se ela morrer, ele também morrerá. Enquanto
aguardava o desfecho da situação, o rei ergueu as suas mãos aos céus, em
gratidão pela força que lhe dava ESPERANÇA, qualquer que fosse o seu destino. Pois
numa trágica história onde inimigos mortais se mostraram mais fortes do que as
maiores virtudes, a ESPERANÇA lançou mão de uma estratégia de grande valor. Fugir
para preservar sua vida. Portanto, quando tiverem que perecer todas as
virtudes, ESPERANÇA será a última a morrer...
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